19 de mar. de 2017

COMO LEVAR A APRENDIZAGEM ATIVA PARA A SALA DE AULA?

(texto produzido por solicitação do Sinepe/RS em março/2017)

   Após quase sete anos de pesquisa e prática sobre as estratégias de ensino aprendizagem ditas ativas que fazem sucesso no mundo (tipo o Problem Based Learning, Peer Instruction ou o Just-in-time Teaching), percebi que nenhum dos conjuntos de estratégias se adequava integralmente a realidade de sala de aula aqui no Brasil. Daí, após os testes, comecei a formatar um modelo adaptado à nossa realidade cultural, aproveitando o que funcionou bem em cada uma das estratégias estrangeiras.
      Através de estratégias ativas de ensino é possível romper com a ideia de que as aulas são apenas momentos de transferência de informação do professor para os alunos e na prática melhorar muito os níveis de aprendizagem. Identifiquei um aumento de até 10% na média das notas das turmas nos primeiros testes e em mais de 100% na quantidade de notas altas (próximas do gabarito das provas), além da melhoria nos resultados em indicadores externos (Enem, simulados e vestibulares).
     Dentre inúmeras dicas possíveis destaco algumas, como a de fazer uma introdução ao conteúdo que será estudado e ir passando a palavra aos alunos para que possam ir expressando seus conhecimentos prévios a cerca do tema e em seguida, organizando estes conhecimentos prévios apresento o novo conhecimento, permitindo que os alunos façam associações, questionamentos e propostas sobre o tema. Eles costumam levantar situações muito pertinentes e algumas inclusive erradas que certamente iriam influenciar negativamente no momento da avaliação se persistissem.
     Mediando as discussões entre o velho e o novo conhecimento sempre vou lançando algumas questões, perguntando, me fazendo de bobo, de desentendido pra vê-los construir e reconstruir linhas de pensamento. Quanto mais aprimorado o que eles falam, perguntam ou propõem, ais eles entendem o conteúdo. É a técnica do “como assim?”, “Não entendi”.
      Dependendo do tema costumo solicitar aos alunos que pesquisem o conteúdo em casa para iniciarmos a próxima aula. O resultado quase sempre é surpreendente, eles contribuem tanto que sobra pouco pra eu explicar. Basicamente eu só vou organizando as contribuições deles. É fazer os alunos construírem ativamente a aula que eu iria dar sozinho no modelo tradicional. No inicio alguns se dedicavam a essas pesquisas, mas com a competitividade natural que existe entre eles por falar, por participar da aula, em pouco tempo a maioria se prepara e quer contribuir com alguma coisa, nem precisa dar nota pra isso.
      Em vista das falas e dos questionamentos dos alunos consigo perceber a maioria dos erros de interpretação, de cálculos ou conceituais existentes entre meus alunos e assim fazer a correção a tempo. Caso contrário eu só descobriria na prova que eles não haviam entendido tal coisa.
      Gradativamente fui incorporando estratégias ativas de ensino aprendizagem na minha forma de ensinar e percebendo o salto na qualidade da aprendizagem e das relações com os alunos, pois mais motivados, contentes com suas participações nas aulas e com as notas, tornaram as aulas momentos de maior prazer e realização para todos nós. É comum ouvir alguém dizer ao ouvir o sinal ”mas já”, “nem percebi o tempo passar”, “fica mais um período professor”, entre outras.
      Em congressos e jornadas pedagógicas que participo e falo deste tema é comum me perguntarem se a aprendizagem ativa serve para qualquer disciplina ou apenas para a Física? Acompanho a experiência de professores de todas as disciplinas, da educação infantil ao ensino superior, do ensino público ao privado, que trabalham com sucesso tais estratégias de ensino, pois toda a aprendizagem sempre tem como ponto de partida o que o aluno já sabe.

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